...E na calada da noite, atribuído de
imensa insônia, andava eu em “vai e vem” esperando o efeito da cápsula do sono.
Três batidas na porta como as de alguém
que sempre me visitava. Antes de abri-la chamei pelo nome da esperada, mesmo
sabendo que não poderia obter resposta alguma. Vi um copo com água sobre a
mesa, engoli uns goles enormes que desceram quase que me afogando. Pensei em
abrir a porta e ver se alguém estava com problemas, mas não seria prudente tal
ação. Voltei para o meu “vai e vem” e “vem e vai” até que novamente três
batidas. Com temerariedade abri abruptamente a porta e lá estava ela sentada na
cadeira da varanda. Ainda que eu tentasse não poderia lhe tocar, pois era
somente uma imagem sem matéria.
Senti-me estonteado. Talvez a cápsula me
trouxesse o efeito desejado. Não. Eram minhas forças sendo roubadas por um ser
sombrio que me atormentava. O mesmo ser que tantas vezes me sufocou com seu sentimento
insano, o qual chamava de amor, estava bem a minha frente com o punhal cravado
no peito olhando-me fixamente enquanto chorava lágrimas de sangue.
Encostei-me na parede tentando ficar em
pé, mas enquanto meu corpo deslizava-se lentamente lembrei-me de quando já
cansado de sofrer, traído e tendo que aceita-la diante de suas ameaças,
chamei-a até minha casa e ouvindo as três batidas a recebi com aquele punhal.
Agora, deitado naquele piso frio,
percebi que seus pés caminhavam em minha direção. Deitou-se sobre o meu corpo lentamente,
enquanto retirava o punhal do peito, e encostou seus lábios gelados nos meus atrofiando-me
os olhos e fazendo com que minhas lágrimas tão doídas pulassem como pedras
saltitantes e estrondeantes.
Com o mesmo punhal perfurou-me o peito,
enquanto ria da minha agonia, e levou-me com ela para continuar a aprisionar-me
com a insanidade do seu sentimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário