domingo, 11 de dezembro de 2011

RESENHA:O mito de Medéia adaptado pelo cineasta Lars Von Trier.


A adaptação de Lars Von Trier, da peça Medéia de Eurípides, conta a história de uma mulher desesperada e abandonada, mostrando toda a sua terrível vingança.
Conforme a mitologia grega, Medéia foi uma feiticeira filha do rei da Cólquida, que se apaixonou por Jasão, filho do rei de Iolco.
Apaixonada, a princesa da Cólquida ajudou Jasão, com seus encantamentos, a apoderar-se do Tosão de Ouro, depois fugiu com seu amado e para retardar a perseguição matou seu próprio irmão, espalhando seus pedaços pelo caminho. Eetes, pai de Medéia, retardou-se a colher os pedaços do filho.
Chegando a Iolco, Medéia procurou vingar-se do rei Pélias, que havia imposto a Jasão a tarefa de ir buscar o Tosão de Ouro. Para isso, persuadiu as filhas do rei de que seria possível fazê-lo rejuvenescer. Despedaçou um carneiro velho, cozeu-o numa poção fervente e o fez reviver sob a forma de um tenro filhote. Convencidas, as jovens cortaram o pai em pedaços e mergulharam-no na poção. O velho, porém, não ressuscitou.
Por causa desse crime, Jasão e Medéia foram expulsos e fugiram para Corinto, junto ao rei Creonte. Esse rei ofereceu sua filha Creúsa a Jasão, que aceitou o presente repudiando Medéia e fazendo com que ela fosse expulsa do país.
Antes de partir, a feiticeira se vingou de Creúsa e Creonte provocando a morte de pai e filha, matou os próprios dois filhos que tivera com Jasão, fugiu para Atenas, em um carro puxado por cavalos alados, que havia recebido do Sol e casou-se com Egeu.
Entre tantas outras tragédias, Eurípides (485 a.C.) escreveu sobre o mito de Medéia e toda a sua força dramática exercida pelo conflito passional e todos os problemas que atingem a personagem em seus relacionamentos humanos e em seu próprio interior.
Ao adaptar a tragédia de Eurípides para o cinema, em 1987, o cineasta dinamarquês, Lars Von Trier, reproduz todo esse drama vivido pela princesa da Cólquida.
Von Trier se utilizou de cores escuras que foram muito importantes para a narrativa da vida de uma personagem da mitologia grega, que teve sua vida marcada por conflitos e atitudes consideradas terríveis e de caráter frio e violento.
A morte de Creonte e Creúsa é apresentada com toda a sua fúria, quando Medéia pede que Jasão leve seus filhos e que um dos meninos entregue um presente a princesa e futura esposa de Jasão. Creúsa recebe uma coroa e ao colocá-la sofre toda a causa do envenenamento. Seu pai, ao vê-la agonizando, tenta ajudá-la e morre com a filha.
O filme mostra como Medéia foi a protetora de Jasão, mas também a causa da sua desgraça, pois ao matar seus filhos ela o atinge em seus sentimentos mais profundos. A paternidade era algo considerado de muito sagrado para um homem. Ao se deparar com seus filhos mortos, pendurados em uma árvore, ele percebe o quanto foi inconsequente e o que essa sua inconsequência causou.
Essa cena é retratada de maneira que Jasão, ao se deparar com o inesperado, começa a dar voltas enlouquecidas, pela floresta, demonstrando o quanto está perdido e enlouquecido em seu próprio pensamento.
Medéia, no entanto, solta os cabelos e, diferente do que conta a mitologia, segue sua vida ao lado de Egeu, ao qual promete lhe dar filhos.
Percebemos, portanto, o quanto a transcrição do mito é importante para retratar os problemas sociais relacionados ao casamento, a condição do estrangeiro e da mulher na sociedade, já que Medéia era uma mulher vivendo numa terra que não era a sua e carregando consigo a dor de ser repudiada e não ter a quem recorrer.
Enfim, é um filme que requer uma grande atenção, por parte do telespectador, que precisa estar atento aos acontecimentos e ter um conhecimento sobre o mito de Medéia, a fim de perceber o interior da personagem e poder fazer uma leitura minuciosa de suas atitudes.


REFERÊNCIAS


TRIER, Von Lars. Medéia. Dinamarca, 1987.

Dicionário de mitologia Greco-Romana. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

EURÍPIDES. Adaptação; DEZOTTI, Dejalma José. Medéia. Araraquara: UNESP, 2002.

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