sábado, 10 de dezembro de 2011

RESENHA: “As troianas” de Cacoyannis.


O filme “As troianas”, 1971, de Michael Cacoyannis, um dos mais importantes diretores do cinema grego, apresenta uma releitura da tragédia grega de Eurípides, 484 a. C. e reúne um elenco de grandes atores.
Katharine Hepburn encarna com grande perfeição a rainha Hécuba. Vanessa Redgrave, que atuou em Missão Impossível (2000), faz Andrômaca. Genevieve Bujold é Cassandra. Irene Papas, uma das grandes estrelas do cinema grego, faz Helena e Patrick Magee é Menelau.
No início do filme, Hécuba, a rainha de Tróia, aparece deitada entre os escombros lamentando a morte do seu esposo, o rei Príamo, dos seus filhos, e a destruição do seu reino. De toda essa destruição o que resta de Tróia são as mulheres, sendo que toda a história gira em torno do sofrimento da rainha Hécuba e das princesas Cassandra, Helena e Andrômaca.
Em meio a esse sofrimento, a câmera foca a rainha troiana levantando-se, enquanto fala consigo mesma, como se não lhe restasse mais nada.
Hécuba, auxiliada pelas mulheres troianas, que em coro lamentam a queda de Tróia, anda entre os escombros sofrendo e lamentando até que Taltíbio, o arauto encarregado de diversas missões durante a guerra, anuncia o destino das troianas.
Cassandra, filha de Hécuba e Príamo, será entregue a Agamenão, irmão de Menelau, como sua concubina.
Vale ressaltar que, conforme a mitologia grega, Cassandra recebera de Apolo, deus da luz, o dom da profecia, mas a moça teria que unir-se a ele. Ao recusar-se a cumprir sua promessa, Apolo retirou de Cassandra o dom da persuasão e, com isso, ninguém daria ouvidos às suas previsões.
Portanto, no filme, enquanto Cassandra expressa suas previsões, relacionadas ao futuro dos integrantes da guerra, as mulheres lamentam sua suposta loucura.
As demais troianas também tiveram seus destinos escolhidos pela sorte e servirão de prêmio para os vencedores.
 À Polixena, também filha de Hécuba e Príamo, coube o destino de ser sacrificada diante do túmulo do guerreiro Aquiles, o qual matara seu irmão Heitor.
Hécuba pertenceria a Odisseu, rei de Ítaca e responsável pela construção do cavalo de madeira que inseriu os gregos a cidade derrotada.
Helena, a rainha de Esparta é levada ao rei Menelau, o qual ela havia abandonado para fugir com o príncipe Páris.
Enquanto Hécuba acusa Helena pela destruição da cidade, a rainha espartana defende-se e acusa a própria Hécuba que, juntamente com seu esposo, o rei Príamo, recusou-se a fazer cumprir o destino previsto pelo oráculo e que estava reservado ao príncipe.
Conforme a mitologia grega, o oráculo previu que o menino deveria morrer para que os problemas causados pelo romance dos dois, não levassem a destruição de Tróia.    Até mesmo Afrodite, a deusa do amor, é apontada como responsável por tê-la obrigado a seguir Páris.
Enfim, depois do jogo de acusações, Menelau decide que Helena será levada a Grécia onde será castigada. Essa decisão não aconteceu, pois, conforme a mitologia grega, o rei perdoa sua bela e astuta esposa.
O momento de maior sofrimento, de Hécuba e Andrômaca, acontece quando Taltíbio lhes dá a notícia de que Astianax, filho de Heitor e Andrômaca, não poderá acompanhar a mãe até o destino que lhe fora imposto.
Conforme Taltíbio, o menino deverá ser atirado do alto das muralhas para que não reste nenhum herdeiro de Tróia.
O sofrimento é sempre enfatizado pelo coro das troianas que, em função dos acontecimentos, vão expressando as aflições das personagens.
O corpo de Astianax é entregue, pelo arauto a Hécuba, juntamente com o pedido feito por Andrômaca, que está rumando ao seu destino, de que seu filho tenha um enterro digno.
A rainha e as troianas se despedem do menino, em meio a muito pranto e lamentação, e é possível observar as últimas esperanças da rainha indo embora juntamente com o herdeiro de Heitor.
Cacoyannis manteve uma proximidade bastante relevante em relação à tragédia de Eurípides. Uma delas é a participação das mulheres, que fazem o papel do coro, tendo a função de enfatizar o sofrimento da rainha e das princesas.
Uma das diferenças entre a obra de Eurípides e o filme de Cacoyannis é que Eurípides inicia sua história com um diálogo entre os deuses Poseidon, deus do mar, e Atena, deusa da guerra, a qual defendera os gregos, mas que se revoltando com os vencedores, por ter seu templo, acidentalmente, destruído durante a guerra, resolve puní-los.
Segundo a mitologia grega, esses deuses tramam uma vingança que contribuirá para a destruição dos humanos.
Cacoyannis apresenta uma leitura voltada para a ação humana.
 Para direcionar a recepção, uma voz narra os fatos relevantes à compreensão do filme e situa o telespectador no tempo e no espaço da história.
Dessa forma, enquanto o telespectador vê as troianas seguindo, cada uma em direção ao seu destino, em meio à destruição, o leitor é levado a imaginar a cidade de Tróia, em ruínas, perdendo-se no horizonte em meio à escura fumaça da poeira e do fogo da destruição.


REFERÊNCIAS:
·         As troianas. Michael Cacoyannis. Grécia, EUA e Rússia, 1971.
·         Dicionário de mitologia Greco-Romana. São Paulo: Abril Cultural, 1976.
·         EURÍPIDES. Duas tragédias gregas: Hécuba e troianas. Tradução e introdução de Christian Werner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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