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MIRANDA,
Ana. Desmundo. 2. ed.São
Paulo:Companhia das Letras, 1996.
Em seu livro “Desmundo” lançado em 1996, pela Companhia
das letras, Ana Miranda – autora de vários romances, entre eles “Boca do
Inferno” em 1989, com suas obras traduzidas para vários países como Inglaterra,
Estados Unidos, Alemanha, Itália, Espanha e Suécia e ganhadora do prêmio Jabuti
em 1990 – apresenta a história de um grupo de órfãs enviadas ao Brasil, pela
rainha de Portugal, para se casarem com os primeiros colonizadores.
A história é narrada por Oribela, uma das órfãs, que expõe
o comportamento relacionado à moral e costumes de um mundo onde as mulheres
eram criadas para “servir” ao homem em tudo e de tudo o que ele necessitasse.
A palavra “servir” é repetida, pela narradora,
demonstrando as várias situações de escravidão não só para com a mulher índia,
mas a negra, a freira e a esposa. A mulher devia servir seu esposo “como um
padre na freira”.
A sequência da narrativa é dividida em partes que apresentam
a chegada das órfãs ao Brasil, a descrição da terra, o casamento de Oribela e
das outras órfãs, o fogo, como representação do inferno ao qual Oribela se
sentia inserida, a tentativa de fuga, o desmundo que representa um mundo diferente
aos avessos, a guerra, o mouro por quem a moça se apaixonou, o nascimento do
seu filho e a parte final.
Alguns destaques importantes são retratados a partir de
comportamentos e impressões da narradora, em relação ao índio, que reflete o
pensamento dos portugueses e invasores.
Os índios eram vistos como uns animais selvagens. “... Um
tanto de suas escravas, com grandes cestos na cabeça carregados e mesmo uns
filhotes fêmeas ou machos pendurados em suas tetas...”
O indígena é diferenciado do ser humano e tratado como
“natural”, como se não tivessem sentimentos. A “natural possui filhotes, as
escravas têm crias.
“...
A pobre Temericô enxergava tudo, parada na mata feito uma pedra, depois de
algumas gritas se curvou sobre a barriga e gemeu feito cantasse, uma coisa
estranha de se ver. Mandei assentar ao meu lado, o que ela fez. Não sabia que
Brasil sente dor.”(p.144)
Esta obra de Ana Miranda oferece um resgate
Histórico-Cultural a partir de uma rica pesquisa bibliográfica como A carta de Pero Vaz de Caminha, Duas Viagens ao Brasil de Hans Staden, Um tratado da cozinha portuguesa do século
XV e Um curso de Tupi antigo feito
pelo padre Lemos Barbosa, possibilitando, ao conteúdo lingüístico, do
livro, uma aproximação da linguagem usada pelo português da época.
Em meio a seus sofrimentos, Oribela descreve com riqueza
de tetalhes a paisagem de um mundo desconhecido.
“As
árvores agrestes muito rijas, aos seus pés nasciam uns vimes que subiam até o
mais alto delas como que mastros de navios e os seus ovéns. Lançavam odores de
bálsamos, de castanhas e grandes ervaçais, seus troncos choravam suavíssimos
licores, a mata era um pomar formoso de uns figos amarelos e frutas de espinho
que cobriam o morro, matas e mangues...”( p.94)
Alain Fressnot consagrou em filme essa obra literária,
levando ao cinema essa trajetória de descaso desmedido desvendado no
“Desmundo”.
Portanto ler “Desmundo” é ter a possibilidade de resgatar
a história do início da colonização do Brasil, com todo o seu contexto
histórico-cultural, e ter o privilégio de saborear a leitura de uma boa obra da
literatura brasileira.
Referência
Bibliográfica
MIRANDA, Ana. Desmundo. 2. ed.São Paulo:Companhia das Letras, 1996.
Referência
Filmográfica
FRESSNOT, Alain. Desmundo. Brasil: Sony Pictures.
Drama, 2003, 101 minutos.
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