Num terminal de ônibus, de dentro da condução, estava eu a observar uma senhora. Em seu rosto a expressão abatida pela idade e nas rugas a deformação do sofrimento. Carregava em seu ombro um saco contendo pacotes de alimentos que, certamente, ela havia esmolado por aí e o segurava arrastando-se com tão enorme peso.
Devia estar tão cansada que resolveu sentar-se em um banco deixando o saco de alimentos ao seu lado.
Os olhos daquela senhora fitaram, repentinamente, os meus e não vi neles brilho algum, pois, por certo ela não vivia mais, mas sim, sobrevivia com suas angústias e fardos carregados por toda sua existência enquanto esperava o grande momento em que a vida lhe trouxesse a paz eterna.
Muito me comoveu essa cena que resolvi deixar aqui relatada e também guardada em meu coração.
Pobre senhora! Era mais um ser no meio daquelas pessoas que, apressadas, iam e vinham sem a perceber. Era alguém sozinha no meio da aglomeração.
Enquanto isso o ônibus em que eu estava foi me distanciando daquela cena, mas muitas perguntas me vinham à mente.
Seria aquela senhora uma viúva desamparada? Teria ela filhos? E se os tivesse porque permitiam horrenda condição. Por que não a acolhiam em seus lares e lhe davam a felicidade de que ela tanto precisava em seus, talvez, últimos dias na terra. Não teria ela netos que a abraçasse oferecendo - lhe carinho e agraciando-a com suas presenças, aos domingos, correndo o dia todo por seu quintal, arrancando as flores que ela plantava e gritando pela casa.
...Bem... Não vou ficar imaginando mais nada a respeito dessa senhora.
Pode ser que minha sensibilidade não me permitiu ver em seus olhos que, a seu modo, ela poderia ser feliz.
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